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Fortaleça-se nas fraquezas




Encoraja-me escrever este artigo todas as muitas moções de apoio recebidas nos últimos dias de nossos clérigos espalhados por todo o Brasil, do Ceará, de Salvador, do Rio de Janeiro, de Goiás; de todas as dioceses as manifestações de solidariedade e fidelidade à nossa amada Igreja é comovente. Também da Argentina recebemos apoio e encorajamento.

Quando uma Igreja local sofre um trauma provocado pela ação de um único de seus membros todos sofrem e o nosso coração sangra de dor. Passa-nos um sentimento de derrota porque sabemos da índole de nossos clérigos e por cada um de vocês ponho a minha mão no fogo.

Mas fatos são incontestáveis e nos resta aproveitar o fluxo de tantas manifestações solidárias e de encorajamento para alavancar ainda mais o trabalho da Igreja, que cresce de acordo com a bondade de Deus.

Porém nestas ocasiões ressurgem algumas manifestações que se tornam por períodos adormecidas, mas basta uma fagulha, uma oportunidade para que apareçam com seus ódios, preconceitos e demônios. Entretanto ressurgidas, nos dão a oportunidade de refletir sobre estas patologias.

Uma delas é a manifestação de quem se acha um santo, alguém acima de qualquer suspeita, apontando seu dedo na direção do que causou o dano, esquecendo-se do que se diz no dia da ordenação: se alguém tiver alguma coisa contra este candidato que diga francamente, lembre-se, porém de sua própria condição humana. Protagonizam aquela ilustração do macaco sentado sobre o próprio rabo criticando a forma, o tamanho ou a condição do rabo dos outros macacos.

Uma outra aparece na informalidade das comunicações de quem tem pouco para realizar em termos de evangelização, mesmo de participar das celebrações de suas paróquias, de tanto que são encontradas dia e noite on line em facebooks e outros quetais. São manifestações de uma presunçosa superioridade, geralmente apontando a “falsidade” da Igreja em questão, e de cambulhada as demais igrejas anglicanas continuantes. Sobre esse assunto já me manifestei largamente em outro post neste blog, apontando para a presunção dos que acham que para ser anglicano é necessário possuir em sua corrente de DNA um par de genes que determinam o legítimo anglicanismo. São os que pensam que a palavra “anglicano” é uma marca registrada como se fosse um creme dental, cujo uso se limita aos que a patentearam. Uma busca no Google, paradigma moderno da plena informação, em particular se habilitamos a função de busca mundial, nos aponta uma infinidade de igrejas anglicanas. Todas decerto, exceto a que pertence o pretensioso acusador, falsas. Não há nada mais estúpido do que não reconhecer as diversas manifestações do anglicanismo ao redor do mundo. O fenômeno da subdivisão das Igrejas históricas em independentes, livres, carismáticas, etc, etc, tem atingido todas as denominações. Por que não atingiria o anglicanismo?

Para quem é observador do movimento anglicano no Brasil não passa sem perceber vicissitudes em todas as denominações anglicanas, a diferença é que algumas são apresentadas na mídia, outras caem no esquecimento.

Finalmente me reporto a uma desastrosa Nota de Esclarecimento que trata de “esclarecer” que a sua Igreja não se confunde com a outra Igreja! Que a sua Igreja não é a autodenominada Igreja Anglicana Tradicional.
Há nesta conduta duas grandes confusões: primeiro nossa igreja não é “autodenominada”, ele é homônima da Igreja Tradicional da Inglaterra, e recebeu concordância desta, por escrito, quanto ao uso do nome no Brasil. A IATB é membro da The Anglican Episcopal Church – International e não somos um grupo autocéfalo, mas organizado em uma hierqarquia mundial, com representação em vários países. O segundo engano é imaginar que o ato praticado por qualquer membro de qualquer Igreja particular afeta somente a igreja ao qual está incardinado. Tais atos ultrapassam em suas consequências os limites de uma única Jurisdição e tornam vulnerável toda a comunidade anglicana e mesmo cristã. Não perceber esta consequência é declarar falta completa de visão eclesiástica.

Para concluir, lembro que a Bíblia não é um livro destinado a divulgar uma versão romanceada e triunfalista de um povo e seus personagens. Não, nela encontramos vitórias e fraquezas.  Por meio dela temos conhecimento de assassinatos, de injustiças, de traições e de tantos outros pecados cometidos por pessoas do povo de Deus. Aliás, logo nas primeiras páginas da Bíblia, quando ainda haviam poucas pessoas na face da Terra, nos deparamos com o relato de um assassinato entre irmãos.

Não estamos tentando defender ninguém, não é do caráter de nossa Igreja apoiar o mal feito. Aliás, o tipo de acusação a que foi exposto um de nossos clérigos, é de tal natureza que o bom senso deve ser o de considerar culpado até que seja excluída toda a sua culpa, ocasião em que seriam restituídos seus direitos clericais, se ainda for conveniente para a Igreja e para ele mesmo.

Mas também não podemos acreditar cegamente na mídia, sempre ávida por destruir a reputação de qualquer um, se isso trouxer audiência.

Em uma das mensagens recebidas encontrei a seguinte avaliação sobre a mídia: “Nessa perspectiva não temos uma mídia solidária com o povo da senzala porque seu metié é o da casa grande. Pelo contrário, como mercenária quer aproveitar-se de tudo e de todos para vender suas banalidades. Lembremos-nos das agruras e injustiças sofridas pelo Padre Júlio Lancelotti em São Paulo, radicalmente comprometido com a pastoral dos moradores de rua.”

Encerro esta matéria na certeza de que tais situações ao contrário de nos desunir e de nos fazer retroceder, nos unirá ainda mais em torno do ideal de Cristo e da verdadeira igreja, sem placas e sem preconceitos.  “Quando estou fraco, então sou forte!” 2Co 12:10

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