Quem pode ser Calvinista?
Por Rui Costa Barbosa
Bispo da Igreja Anglicana Tradicional
Dias atrás fui criticado por ser Calvinista e Anglo-católico. Então me ocorreu a pergunta que serve de título dessa reflexão. Quem, afinal, pode ser Calvinista? Alguns desinformados pensam que o Calvinismo seja uma seita, algo capaz de retirar da rota da salvação o impenitente que a ele adere; que seja incompatível com determinadas denominações. Geralmente essas estultices provêm de quem não tem qualquer conhecimento do que se convencionou chamar no meio teológico de Calvinismo. De quem jamais se dedicou a conhecer a vida e a obra do grande teólogo João Calvino. Algo do tipo, não li e não gostei.Bispo da Igreja Anglicana Tradicional
Calvino é considerado ao lado de Lutero um dos maiores reformadores da igreja. De grande erudição e pleno conhecimento das línguas bíblicas, foi destacado político e também publicou trabalhos na área da educação pública. Sua maior contribuição foi sem dúvida um tratado teológico conhecido como “As Institutas”. Essa extensa obra cobre praticamente toda a Bíblia, constituindo-se num dos mais exaustivos trabalhos de uma só pessoa em todos os tempos no campo religioso.
Calvino teve um seguidor, Arminius, que mais à frente divergiu do mestre em alguns pontos de sua teologia. Esses pontos foram notabilizados pela sigla inglesa “TULIP” (tulipa), cada uma das letras da palavra referindo-se a um dos cinco pontos divergentes entre Calvino e Armínius. De toda a extensa sistematização teológica que representa o legado de Calvino, esses pontos nem deveriam ser tão importantes. De fato quem conhece um pouco da obra de Calvino se defronta com um sistema absolutamente bíblico, cujo cerne é a maravilhosa doutrina da soberania de Deus sobre todas as coisas, e não a doutrina da predestinação, com a qual os incautos relacionam diretamente a contribuição de Calvino, reduzindo-a a um nível intolerável. O que estamos querendo dizer é que as doutrinas da eleição e da predestinação são conseqüências e não causas da doutrina da soberania divina.
Calvino baseou sua obra no pensamento de Santo Agostinho, o qual por sua vez é um dos maiores intérpretes do apóstolo Paulo. Charles Spurgeon, um homem de fé inabalável e grande conquistador de almas, disse: “Utilizamos o termo “calvinista” apenas por simplificação. A doutrina chamada calvinismo não surgiu de João Calvino, cremos que ela procede do grande fundador de toda a verdade. Talvez o próprio Calvino a tenha derivado principalmente dos escritos de Agostinho, que, sem dúvida, obteve das Escrituras as suas idéias, por intermédio do Espírito Santo de Deus, a partir de um estudo diligente dos escritos do Apóstolo Paulo”.
Quem, afinal, pode ser calvinista? Mais uma vez me ocorre a pergunta. Seria o calvinismo uma marca de alguma denominação em particular? Haveria alguma incompatibilidade do calvinismo com essa ou aquela corrente do cristianismo? O professor Eric Reisinger nos diz, em artigo publicado na revista brasileira “Fé para Hoje” da Editora Fiel (Número 29, ano 2006, pág 13): “Embora o cristianismo de nossos dias seja tão diversificado, podemos verificar que entre aqueles que podem ser razoavelmente chamados de cristãos existem apenas duas divisões. As práticas talvez sejam diferentes e pontos de vistas diversos podem ser mantidos, mas as posições fundamentais serão reconhecidas como derivadas de dois sistemas de teologia – calvinismo e arminianismo”. Mais adiante o mesmo autor nos informa: “Existe em nossos dias um grande ressurgimento deste sublime e glorioso sistema paulino de verdade bíblica – especialmente entre os batistas do Sul”.
Os batistas (no caso do Sul dos EUA) não são protestantes no sentido como são os presbiterianos, os luteranos e os congregacionais. Não deixam de ser batistas por aderirem entusiasticamente ao calvinismo. Nem mesmo um exacerbado católico romano poderia ser condenado por ser calvinista, embora geralmente não o sejam. Encontrar calvinistas entre os reformados e entre os grupos evangélicos, inclusive alguns pentecostais da segunda e terceira reformas não é incomum.
Por isso tenho a grata consolação de ser um calvinista convicto, pois isso não afeta o modo de como escolhemos para adorar a Deus, muito ao contrário, reconhecer a soberania de Deus sobre nossas vidas faz-nos sentir a verdade que brota das Escrituras.
Um comentário:
muito bom seu comentarios vale apenas ler rev barboza.
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