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O Anticristo Nega que Ele Veio em Carne

Por Rui Costa Barbosa
Bispo da Igreja Anglicana Tradicional do Brasil


Há alguns anos atrás estive pregando em uma igreja presbiteriana na capital de São Paulo substituindo o pastor titular, meu amigo, que estava em licença para casar-se no Rio de Janeiro. Havia umas sessenta pessoas ouvindo atentamente o meu sermão, mas entre todas havia uma senhora bem idosa que balançava afirmativamente sua cabeça coberta por um lenço elegantemente florido. Quem prega sabe que essa atitude é de quem está aprovando a sua mensagem e eu decidi conversar com aquela senhora ao término do culto.

Embora a mensagem pregada não fosse diretamente relacionada com as seitas e sua influência na vida do cristão, aquela senhora me confidenciou que sua maior insatisfação naquela fase de sua vida, quando já não precisava mais trabalhar arduamente para prover o seu sustento, era o modo pelo qual pudesse se desvencilhar de incômoda visita que lhe fazia um grupo de Testemunhas de Jeová.

Crente reformada há muitos anos, quem sabe toda sua existência, ela não precisava ser esclarecida dos erros proclamados pela seita. Ela sabia perfeitamente a origem da Sociedade Torre de Vigia, de como havia sido criada por Charles Tazel Russel por volta de 1881, um estudioso da Bíblia que fez uma interpretação imprópria de certos textos relacionados com as setenta semanas relatadas no Livro do profeta Daniel. Estava ciente de que Russel fizera previsões quanto à segunda vinda de Cristo prevista inicialmente para 1914, depois transferida para 1918, mas que sua morte em 1916 o poupou de novo vexame público.

Sabia também que a Bíblia utilizada pelas Testemunhas de Jeová, a Tradução do Novo Mundo, foi alterada em muitas importantes passagens para confirmar os erros pregados pela seita e não é confiável para uma leitura adequada da Palavra de Deus, porque afinal não é a Sua Palavra. Certamente aquela nossa irmã idosa, que deve ter freqüentado proficientemente as Escolas Dominicais de antigamente, as quais eram verdadeiros seminários teológicos, que as Testemunhas de Jeová negam a divindade de Jesus Cristo reduzindo-o a “um deus”, como se pode ler em suas Bíblias alteradas em João 1:1, repetindo o engano ariano cometido nos primeiros séculos, mas vigorosamente combatido e derrotado pela Igreja.

Provavelmente sabia também que as Testemunhas de Jeová reduzem o Espírito Santo de Deus a uma simples força ativa impessoal, a qual pelo seu errôneo entendimento não possui qualidades intelectuais, em desacordo com tantas passagens bíblicas que revelam justamente o contrário. Eis alguns atributos pessoais e divinos do Espírito Santo que encontramos nas Escrituras: É inteligente (1 Co 2:10-11; Rm 8:27); tem vontade própria (1 Co 12:11); pode se entristecer (Ef 4:30; Is 63:10); Ele fala (Ap 2:7; Gl 4:6); Ele chama (At 13:2; At 20:28); pode-se mentir a ele (At 5:3); Ele é eterno (Hb 9:14); Ele é onisciente (1 Co 2:10-11); Ele é onipotente (Lc 1:35); Ele é onipresente (Sl 139:7-10).

Poder-se-ia esperar que aquela senhora também soubesse que como seita, as Testemunhas de Jeová usam e citam apenas uma pequena porção da Bíblia, de onde extraem versículos convenientes para o seu próprio erro e a disseminação da dúvida entre os cristãos.

Então se sabia de tudo isso, e talvez muito mais a respeito da seita, porque aceitava ela receber em sua casa tão inconveniente visita semanal? Ao lhe fazer essa pergunta eis que responde: “porque sou uma pessoa educada, ficaria constrangida se tivesse que dizer àquelas pessoas que não gostaria de recebê-las mais”.

Convidei-a então a tomar a sua Bíblia e abrir na pequenina carta do Apóstolo João, a segunda delas. Com a dificuldade de uma anciã ela demorou um pouco a encontrar a cartinha de João que tem apenas treze versículos. Lemos juntos, então, os versos de 7 a 11: “Porque já muitos enganadores saíram pelo mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Tal é o enganador e o anticristo. Olhai por vós mesmos, para que não percais o fruto do nosso trabalho, antes recebeis plena recompensa. Todo aquele que vai além do ensino de Cristo e não permanece nele, não tem a Deus; quem permanece neste ensino, esse tem tanto ao Pai como ao Filho. Se alguém vem ter convosco, e não traz este ensino, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda participa de suas más obras”.

As Testemunhas de Jeová não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Se perguntadas dizem que sim, que acreditam no Jesus histórico, ou seja, em um homem chamado Jesus que viveu em Nazaré. Mas continuarão a negar-Lhe a divindade. Ora, se João quisesse dizer apenas que um homem chamado Jesus existira, por que diria “veio em carne”? Isso seria natural, pois todos os homens vêm em carne. Mas ele quis dizer que Deus se fez carne em Jesus e permaneceu entre os homens (João 1:14). No final do texto lido encontramos a orientação apostólica que nos trás tranqüilidade: se alguém bate em sua porta e não trás o verdadeiro ensino, sinta-se fortalecido para não o receber em sua casa. Você não precisa tolerar as heresias que essas pessoas levam dia após dia nas portas de tanta gente, conseguindo atrair algumas e confundir a tantos, apenas por uma questão de educação. Até porque o apóstolo nos adverte que quem assim o faz (os recebem) passa a ser conivente com suas más obras.

Aquela senhora então abriu bem os seus olhinhos cansados pela idade, estampou um sorriso e me agradeceu pelo ensino que acabara de receber. Disse-me confiantemente que daquele dia em diante jamais iria ouvir uma Testemunha de Jeová e suas toscas heresias. Que Deus a tenha abençoado e espero que ainda viva para Sua honra e glória. Amém.

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